Sempre falo que não existe nada mais importante para as favelas e periferias do Rio de Janeiro (na área cultural) do que as Escolas de Samba. Porém, não posso esconder as contradições que o carnaval provoca, e vou dizer porquê.
Só no Estado do Rio de Janeiro tem 70 Escolas de Samba. Cada escola recebe em média 25 sambas por ano, para que possa escolher 1 que irá apresentar no seu desfile. Cada samba tem em média 4 compositores. Somando esses número chegaremos a soma 7 mil compositores espalhados por todo Brasil (a maioria do Rio e moradores de subúrbios e favelas), pensando e escrevendo sobre a história do nosso país.
A soma de trabalhadores envolvidos com o carnaval eu nem me atrevo em fazer aqui, mas me atrevo em dizer que não existe no mundo um espetáculo que empregue tanta gente. Daí a importância a que me refiro.
Com o crescimento econômico a cada ano, o carnaval foi sendo aceito e usado (pelos governantes e empresas privadas) e tudo o que lhe envolve também. Falo dos patronos das escolas de samba que na grande a maioria são contraventores e mesmo assim conseguem, além de fazer o carnaval junto com a Prefeitura, Governo do Estado e Governo Federal, negociar o evento com as maiores marcas do mercado brasileiro e internacional.
Mas essa parceria tem um preço, e eles (governantes e empresários) sabem cobrar.
Para o povo, carnaval é festa; para mídia é lucro; para as empresas, é propaganda e para o governo, o carnaval é tudo isso junto (povo, festa, mídia, lucro, empresa e propaganda).
Esses interesses são ameaçados quando se fala em problemas sociais. Como isso, as Escolas de Samba quando fazem um enredo criticando ou denunciado situações do nosso cotidiano, tem uma forte chance de ser penalizadas na hora do julgamento.
E os exemplos são muitos, e um dia escrevo sobre isso aqui.
Mas entre tantos interesses, vou finalizar falando da propaganda governamental desse ano no carnaval Carioca.
Aproveitando a “lua de mel” em que vive a Policia Militar do Rio de Janeiro e a mídia Carioca, o governo não teve dúvida, e a Policia Militar foi o produto da vez.
A Unidos da Tijuca teve o medo como enredo, e o nome desse enredo era a seguinte frase: “Essa noite levarei sua alma.”
Frase muito parecida com a do CAVEIRÃO (veiculado blindado utilizado pelo BOPE), que assim que começou a invadir favelas falava assim: “Eu vim roubar a sua alma”.
A bateria da Mangueira vestida de oficial da PM e marchando na avenida deu pra engolir, já que o saudoso Nelson Cavaquinho era da corporação, mas havia ali uma nítida intenção de valorizar a imagem da PM.
Mas o fim da picada foi ver a bateria do Salgueiro vestida de BOPE, não quero censurar. Cada carnavalesco que escolha como deve vir sua escola, só quero alertar que se eles estivessem falando que precisamos repensar a nossa policia, eles não teriam a mesma liberdade.
No fim valeu a pena, todas elas voltaram a desfilar entre as campeãs do carnaval.
Mas fomos salvos pelo rei.
Parabéns a Beija Flor, e que nem tudo acabe em carnaval!
Mc Leornado é presidente da APAfunk, cantor e compositor.
Fonte: LEONARDO, mc. "tudo pela cultura, ao a cultura por tudo?", Caros amigos, ano XV, n° 169, maio de 2011, p. 6.
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